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Associação

Jeronymo Ribeiro

Português, Jeronymo Ribeiro nasceu na aldeia Lamas, Conselho de Penela, distrito de Coimbra, a 17 de março de 1854. Casou-se dia 30 de abril de 1877 com maria Rosa da Conceição Oliveira, natural de Podentes, Conselho de Penela, nascida em 13 de abril de 1860. Emigraram para o Brasil antes de 1888, não se sabe o motivo, mas seu neto, Sr. Augusto Tamagnini considerou que eles eram filhos de pequenos agricultores e viviam numa pequena aldeia com horizontes socioeconômicos limitados e eram novos em idade, ele 23 e ela com 17 anos.

Jeronymo e esposa fixaram-se em São Paulo e conseguiram progredir a ponto de possuírem um armazém de produtos alimentícios, azeites e vinhos, etc. No dia 15 de setembro de 1888, nasceu-lhes Alice, registrada no livro 23 de Assentos de Batismo da Paróquia da Sé de São Paulo.

Em 1904, por motivo de uma doença severa (astenia ou anemia?), D. Maria Rosa transferiu-se, juntamente com a filha Alice, para Coimbra, em Portugal. A 16 de abril de 1905, Alice casou-se com José Maria Barbosa Tamagnini de Matos Encarnação, aluno da Faculdade de Medicina. Este casamento foi realizado contra a vontade de Seu Jeronymo, e por esse motivo, houve um corte nas relações entre os de lá e o de cá. Pelo que indicam as cartas e documentos, Jeronymo Ribeiro nunca mais encontrou-se com D. Maria Rosa e com sua filha, senão por cartas.

Em 1900 entrou em contato com a professora Anália Franco que desenvolvia o seu trabalho de missionária. Em 1901 ela fundou a “Associação Feminina Beneficente e Instrutiva do Estado de São Paulo”, destinada a amparar crianças carentes, obra que muito iria influenciar os futuros trabalhos de Seu Jeronymo.

Muito colaborou com a obra Anália Franco, e era um ideal seu dar continuidade àqueles beneméritos atos de abnegação e compaixão pelos menos favorecidos da sorte. Médium de raras qualidades, dedicou-se à divulgação do Espiritismo. Através da audição mediúnica e da psicografia recebia mensagens e orientações dos espíritos, possibilidades que favoreceram muito a sua missão de peregrino espírita.

Realizou muitas viagens pelo Brasil, viajando pelo Vale Paraíba. Peregrinou por São Paulo e Rio de Janeiro, sempre divulgando o Espiritismo, vendendo revistas espíritas e angariando donativos para crianças, velhos e doentes mentais. Com a estrada de ferro Leopoldina, ele alcançou o Espírito Santo, chegando até Vitória, com algumas incursões a Minas Gerais, principalmente na região de Juiz de Fora. Por navio, chegou até Pernambuco, onde ganhou um quadro pintado a óleo intitulado “O Mendigo”, do pintor Oséias. com os recursos conseguidos, ele ajudava materialmente os mais carentes, sem contudo se esquecer de levar o esclarecimento espírita, baseando-se sempre nas obras de Allan Kardec.

Tanto quanto foi possível apurar, Jeronymo Ribeiro chegou a Cachoeiro de Itapemirim, por volta do final do ano de 1912.

Havia sido avisado pelos Espíritos que deveria ir para Cachoeiro, pois ali haveria de construir uma significativa obra espírita. confirmou o aviso que recebera por clariaudição, em reunião mediúnica orientada por Caibar Schutel, e logo, então, avisou os espíritas de Cachoeiro de Itapemirim que iria para lá. Ao chegar em Cachoeiro foi recebido pelos espíritas que por ali residiam, principalmente por Pedro da Rocha Costa, venerável companheiro espírita e pioneiro nessas terras. Foi apresentado então ao grupo de espíritas que havia formado o Centro Espírita “Fé, Esperança e Caridade” que, inclusive, não possuía sede, pois as reuniões eram realizadas na residência do presidente, Antônio da Silva Marins, situada à Rua Dr. Deolindo Maciel, perto da rua que leva ao morro Amaral.

No dia 13 de abril de 1913, houve uma reunião para eleger a nova diretoria do Centro. Seu Jeronymo foi eleito Presidente, Valentim Soares Vice-presidente, Francisco de Oliveira ficou como 1º Secretário, Maciel Nunes Machado o 2º secretário e Ricardo Gonçalves como Tesoureiro.

Já investido na presidência do Centro, Seu Jeronymo propôs, com apoio dos demais diretores, a mudança do nome do Centro “Fé, Esperança e Caridade” para “Associação Espírita Beneficente e Instrutiva”, percebendo-se aí a influência dos trabalhos de Anália Franco, com quem já havia trabalhado. A partir daí houve uma revolução no Movimento Espírita, pois com o dinamismo, Seu Jeronymo começou seu campanha para a construção da sede, que para espanto geral foi inaugurada três meses depois, a 14 de julho de 1913.

Os trabalhos se intensificaram e a Associação, além das tarefas espíritas, doutrinárias e mediúnicas, mantinha gratuitamente uma escola primária e, nos fundos do prédio, um albergue noturno para aqueles que chegavam à cidade e não tinham onde ficar. Num esforço maior, em 1916, criou a Liga Brasileira Contra o Analfabetismo, mais tarde Liga Espírito-santense, com o objetivo de combater de frente o analfabetismo, visando a que não houvesse mais analfabetos, crianças ou adultos, no centenário da Independência do Brasil (1922). Para a Liga, Seu Jeronymo chegou a receber verbas municipais mensais, visto que ali muitas crianças e adultos eram instruídos gratuitamente.

Para atender a uma maior capacidade de divulgar o Espiritismo, Seu Jeronymo fundou a revista Alpha, em 1916, que na sua primeira fase era em forma de jornal. Só depois, na segunda fase, é que passou a ter o formato de revista (1923). Constitui-se a primeira publicação, ou revista espírita do Estado.

Em 1918 fundou o Asilo Deus, Cristo e Caridade para abrigar órfãos, velhos e doentes mentais. Para tal, comprou o Sítio Santo Fé, num lugar chamado Amarelo, situado a 4 Km do centro da Cidade. Havia ali uma casa de fazendeiros, simples, e dois quartos, onde, de início abrigou 12 indigentes, entre crianças, velho e alienados, sendo 6 de sexo feminino.

Para arrecadar recursos viajava muito por aquelas montanhas, muitas vezes à pé, descalço para não gastar os sapatos, por economia. Trabalhava em cantaria, carpintaria e outros afazeres que pudessem render em favor das obras assistenciais. O seu trabalho foi reconhecido, tanto pelas autoridade municipais quanto pelas estaduais. O Governador Nestor Gomes solicitou que recebesse doentes mentais que estavam sob responsabilidade do Estado, pois não havia instituição no Espírito Santo que pudesse realizar esse serviço. Seu Jeronymo passou, então, a receber verbas específicas a fim de manter esses pacientes, que muitas vezes eram mais de 80, tanto do sexo feminino quanto do masculino.

Com recursos que conseguia foi comprando e ampliando a propriedade chegando a comprar terras no Distrito de Vargem Alta, das mãos de D. Alice Gomes, irmã do Governador. Construiu ali um sanatório para as crianças enfermas do Asilo. A sua finalidade não era a de acumular bens ou patrimônio, como muitos afirmavam com a intenção de combatê-lo e perseguí-lo, mas para fazer uma colônia agrícola, o que não conseguiu, pois veio a falecer. Esse objetivo foi alcançado por seu sucessor.

Como, anualmente, faleciam em torno de 20% dos pacientes velhos e doentes, Seu Jeronymo solicitou, em 1922, permissão à Prefeitura para construir um cemitério, o que seria feito sem ônus para o Município. Isto lhe foi concedido. Quando da inauguração, o Prefeito, Dr. Augusto Lins, não só deu a permissão para o funcionamento, como também o nomeou zelador, com todas as vantagens do cargo. Foi uma maneira de conseguir novos recursos financeiros.

Aos poucos, todas as instituições criadas por ele foram vencendo os preconceitos e firmando-se na sociedade pelo exemplo do trabalho de abnegação junto aos desvalidos, a ponto de serem reconhecidas como de utilidade pública, recebendo verbas governamentais. Pessoalmente, enfrentou, junto com companheiros de primeira hora, perseguições dos preconceituosos, invejosos e fanáticos de todos os tipos, num tempo em que a Igreja Católica ainda tinha muito poder. Sofria perseguição da classe médica porque curava os enfermos do corpo e da mente com os recursos espíritas. O índice de cura no Asilo era bastante alto (40% ao ano). Além de tratamento alopático, os doentes recebiam recursos homeopáticos, passes e água fluidificada.

Em vida, juntamente com Pedro da Rocha Costa (Vovô Pedrinho), foi reconhecido como o Apóstolo do Bem, por sua dedicação às crianças órfãs, aos considerados loucos e obsidiados. A caridade marcou seus passos, e quanto a seu disposição para com ela, ele declarou: “…Eu, nada quero da terra, a não ser o amor do meu próximo, o carinhoso conforto aos que sofrem!!! Os que sofrem com paciência e resignação, são meus companheiros, são o meu próximo. Eu vivo exclusivamente para estes! Custe o que custar, seguirei a Jesus, sejam quais forem as barreiras…”.

A sua honestidade foi testemunha pelo comerciante Gil Moreira, em cuja casa comercial Seu Jeronymo mantinha um conta de crédito. Gil Moreira & CIA, situada na Praça Jeronymo Monteiro, fornecia material elétrico, louças, vidros, armarinhos, tintas, ferramentas, material de costura, calçados, artigos dentários, móveis, etc. Seu Jeronymo, no dia certo, enviava sempre alguém com o valor da prestação de “mil réis”.

Jeronymo Ribeiro desencarnou a 5 de outubro de 1926, em Cachoeiro de Itapemirim, aos 72 anos de idade. Possuía uma cardiopatia e ao aproximar-se do dia em que deveria partir deste mundo, adoeceu visivelmente, vinda a falecer 5 dias depois com um sorriso no rosto, como deve ser a morte de um justo. Há um depoimento do Dr. Carlos Lomba que o assistia quando do desenlace:

“Pois bem foi em 5 de outubro de 1926, que o bem velhinho expirou nos meus braços, sendo que poucos momentos antes, fazendo-me chamar (pois que eu tentara, então, um ligeiro repouso físico após 5 dias e 5 noites de vigília), e assim segredou a meus ouvidos, já quase sem forças para falar, apontando-me o braço: ‘deite um pouco de azeite à lamparina, que está quase a se apagar…’ E assim me pedia ele, com o faceis sereníssimo, lívido, já moribundo, mas com impressionante lucidez, tranqüilidade e coragem, que eu lhe fizesse a última injeção de óleo canforado. E assim foi. Poucos momentos após, e eis que o desenlace se opera, subitamente, em colapso cardíaco, regressando o nosso delictíssimo e profundamente saudoso Amigo à Pátria Espiritual”.

Foi enterrado como era de seu desejo, na quadra de mendigos, do Cemitério do Sítio de Santa Fé, em Amarelos, envolto num lençol. A consternação da população de Cachoeiro foi geral. A cidade inteira compreendeu que perdia, naquele 5 de outubro, um de seus mais valiosos cidadãos.

Na “Associação Espírita Beneficente e Instrutiva” implantou, de modo pioneiro, uma espécie de estudo sistematizado da Doutrina Espírita, quando as obras de Kardec eram estudadas em regime de rodízio, para que todos tomassem conhecimento do conteúdo de cada livro.

Usou a mediunidade como instrumento de amor, deslocando-se a qualquer hora para socorrer quem quer que lhe necessitasse da presença amiga e vigorosa. Sua fama de médium curador espalhou-se pelo Estado. Muitos obsidiados, tidos como loucos, foram aliviados em seu presença. Os perturbadores mentais internados encontraram lar amigo, amor, dedicação e grande melhora pela terapia do trabalho.

As instituições por ele criadas passaram a tero seu nome, como Associação Espírita Beneficente e Instrutiva “Jeronymo Ribeiro” e o Asilo passou, mais tarde, a ser denominado “Lar Jeronymo Ribeiro”. Existem em Cachoeiro de Itapemirim o Centro Espírita “Jeronymo Ribeiro”. A Escola de Música “Jeronymo Ribeiro” do Asilo era dirigida pelo Maestro Alfredo Herkenhoff. Em Vila Velha (ES) existe um Grupo Espírita denominado “Jeronymo Ribeiro”, e a antiga estrada que conduzia do centro da cidade ao Asilo hoje é uma cumprida rua calçada de paralelepípedos, chamada Rua Jeronymo Ribeiro.

Do Mundo Espiritual, Jeronymo Ribeiro continuou sua obra, orientando os trabalhos espíritas de assistência social e importantes tarefas de desobsessão, através de abnegados médiuns sensíveis à sua influência benfeitora. O seu lema era “o Espiritismo deve ser divulgado por palavras e atos”.

O Asilo, hoje denominado “Lar Jeronymo Ribeiro”, teve como seu sucessor Luiz de Oliveira, escritor e poeta da Academia Mineira de Letras, indicado pelo próprio Jeronymo Ribeiro. As obras cresceram e marcaram, praticamente, o início de um movimento espírita forte no Estado, tudo devido ao espírito de trabalho, à palavra esclarecida e ao exemplo do cidadão honrado do Sr. Jeronymo Ribeiro – O Apóstolo do Espiritismo no Estado do Espírito Santo.

 

Fonte: Dossiê Jeronymo Ribeiro